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Picolé de pera
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E-book155 pagine2 ore

Picolé de pera

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O tão aguardado início no programa de estudos Erasmus, na Suécia, logo se revela um encontro desagradável com um universo no qual violência, sexualidade e abuso se sobrepõem. 

O protagonista, e também autor, narra os primeiros doze dias de estada no país escandinavo, entre a pequena cidade de Uddevalla e a grande e cosmopolita Gotemburgo, a difícil convivência com sua coinquilina, Lena, e um sentimento de inadequação que, mais tarde, culminará em uma crise pessoal e psicológica.

LinguaItaliano
EditoreBadPress
Data di uscita25 mag 2021
ISBN9781667401607
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    Anteprima del libro

    Picolé de pera - Enrico Varrecchione

    Introdução

    No final de 2019, na Finlândia, foi nomeada Primeira-Ministra a jovem Sanna Marin, como chefe de um governo formado por partidos guiados exclusivamente por mulheres. No meu perfil do Facebook, citando um artigo de um jornal nacional, parabenizei o fato de que havia sido eleita uma pessoa com ideias progressistas e não por causa da tão louvada igualdade de gênero – admito que seja objeto de discussão no primeiro país, da Europa, que concedeu o direito ao voto às mulheres – seja provavelmente anulada, concedendo maior espaço a personagens políticos femininos.

    Começam a aparecer uma série de comentários por parte de algumas ativistas inscritas no mesmo partido político que o meu. Uma destas, em uma mensagem privada, escreveu-me um texto: Me bloqueou, assim poderia bater p... , referindo-se – utilizando o verbo cuja gíria indica a masturbação masculina – ao fato de que a impedi de comentar abaixo do meu post, depois de algumas intervenções decididamente inapropriadas e de natureza sexista. A denúncia à Comissão disciplinar do partido não dá em nada. Eu me pergunto, ainda hoje, se a mesma mensagem da minha parte, com referência explícita à masturbação feminina, teria tido o mesmo êxito.

    Passam alguns meses, a Covid leva algumas dezenas de milhares de pessoas na Itália e os governos de todo o mundo são obrigados a intervenções financeiras em larga escala, assim como a ações voltadas a limitar as liberdades individuais na tentativa desesperada de parar a difusão da pandemia. O mesmo partido, antes de se preocupar com uma solução ou com uma sugestão para, pelo menos, alguns dos milhares de problemas causados pelo vírus, sob o impulso das ativistas acima, aprova um documento que simpatiza com a causa do feminismo interseccional. Trata-se de uma teoria que classifica o nível de discriminação com base na coincidência de fatores ou não ligados ao gênero, a identidade sexual, a etnia etc., promovendo ações de discriminação positiva em relação a quem pertence a determinadas categorias. Uma espécie anacrônica hit parade da discriminação na qual o mérito e o empenho individual não encontram nenhum lugar. A minha ideia sobre essa teoria é plenamente refletida pela intervenção do conhecido psicólogo Jordan Peterson, no Youtube. Para quem compreende o inglês, pode ser encontrada com o título Jordan Peterson debunks intersectionality and White privilege. Eu, obviamente, retirei a minha adesão ao partido.

    Então, logo após a pior pandemia do último século, estou com dois anos de ativismo político jogados fora. Tinha tanto tempo à disposição, sem poder sair, viajar ou fazer coisas que normalmente me deixam ocupado, e uma aversão enorme contra a atual narração dividida aplicada por alguns indivíduos minoritários, mas muito barulhentos e eficientes. A narrativa em questão é geralmente aquela na qual as mulheres são muito mais transparentes e honestas que os homens e que a gestão das coisas públicas seria automaticamente melhor se elas estivessem em maior quantidade no poder. Sem prejuízo das minhas convicções, de modo ideal, deveria alcançar um nível adequado de representação em todos os cantos do planeta (mas, em certos casos, seria necessário introduzir o conceito de representação em si, e não estamos falando do cruel mundo ocidental); não creio que as mulheres sejam mais transparentes, honestas e trabalhadoras que os homens. O são da mesma maneira e existem milhares de exemplos para demonstrá-lo. E às vezes, quando estão empenhadas na política, as mulheres não se revelam ser particularmente empáticas em face aos assuntos caros ao feminismo. Quem poderá beneficiar os direitos das mulheres (ou das minorias), um social-democrata calvo, acima do peso e com bigode de cantor pop dos anos 70 ou Marine Le Pen? Ou para assistir em nossa casa, Giorgia Meloni?

    Depois, há outras vicissitudes pessoais. Sou o único homem da classe por quase todos os cinco anos do ensino médio voltado para área linguística e tive ótima relação com minhas colegas, ainda que, pelo menos durante os primeiros tempos, a situação tivesse causado um pouco de solidão, especialmente em um adolescente bastante tímido. Frequentemente, ouve-se falar de masculinidade tóxica: mesmo com todo o bem que posso desejar a muitas delas, vi de perto a feminilidade tóxica. Escutei nos comentários feitos na ausência de uma delas, ou nas maldades divulgadas para desacreditar a reputação de uma ou de outra. Ou, se queremos deixar de misturar toxidade e gênero, podemos recomeçar a dizer que algumas pessoas são más ou mal-intencionadas e que isso não tem nada a ver com o gênero.

    E depois houve o Erasmus, na Suécia. Em particular, os primeiros doze dias no país dentre os mais vistos como o exemplo mais brilhante de igualdade em variados setores da política, da economia e do empreendedorismo.

    Durante aquele período, aconteceu uma série de eventos sucessivos rapidamente, os quais me fizeram colocar na cabeça voltar para casa, mesmo depois de haver trabalhado duro para ganhar aquela possibilidade.

    Assim, escrevi; tudo veio muito rápido, também porque a memória é um músculo que tenho exercitado constantemente e que para essas situações tem sido sempre muito útil. Escrevi estas linhas com a consciência de não querer conferir, necessariamente, um significado político a elas, mas para contar uma experiência difícil e dolorosa, da qual, sucessivamente, surgiram outras. Passei alguns anos atormentado pelos ataques de pânico, capazes de gerar uma constante insegurança e fazer afundar a minha autoestima, fazendo aflorar alguns horrendos efeitos colaterais. E contando esses episódios, tentei destacar, se é que houvesse necessidade, que o bem ou mal, o errado ou a razão, a penalidade e o prêmio, são elementos bastante líquidos.

    31/12/2007

    Faltam sete horas para 2008 e estou dissolvendo na água quente o terceiro ou quarto envelope de Fluimucil do dia. Estou bem, tenho apenas uma estúpida gripe devido, provavelmente, ao frio em excesso que peguei há alguns dias, quando saí com os amigos. Estou realmente bem, porque estou prestes a namorar de novo. Estou contente, radiante. Na minha cabeça há em loop I can see me loving nobody but you do Turtles. Passei a tarde toda vendo os melhores momentos do campeonato de futebol de 1978-79 em uma coleção de DVDs dedicada aos clássicos do futebol. A minha estranha perversão em relação ao futebol dos anos 70 e 80 emerge nos momentos particularmente difíceis sob o ponto de vista emocional (festas natalinas, por exemplo), nos quais não tenho o consolo das partidas de futebol ao vivo. Para que fique claro, em plena crise por causa do Coronavírus, devorei uma outra coleção do gênero, aquela ia de 1970 a 1978 e não estava incluída na primeira seleção que tinha saído naquele 31 de dezembro.  As festas natalinas eram agradáveis só durante os anos de escolaridade obrigatória: desde quando comecei a faculdade e, sucessivamente, quando comecei a trabalhar. Durante as festas, muitas ideias vêm em minha mente, mas não consigo nunca concluir nenhuma; já que todos estão empenhados com os presentes, férias e visitas aos familiares, e antes que chegue 7 de janeiro, já deu tempo de esquecer aquilo que tinha pensado ou me dar conta do quanto era ridícula a ideia, sem nem ao menos tentar colocá-la em prática.

    Breve resumo de 2007, que acabou de acabar: coloquei em dia quase todas as avaliações do segundo ano de faculdade (falta Economia, que farei daqui a alguns meses); ainda não sou digno de obter a carteira de motorista (o que conseguirei em três anos); em agosto terminei com a minha namorada dois dias antes do nosso primeiro aniversário de namoro e uma semana antes do aniversário dela. E aqui admito que, provavelmente, não ganharei o prêmio Namorado do ano. Não foi ruim, em suma, muito melhor que 2006, em que estava a poucos centésimos de segundo do esgotamento nervoso enquanto devia me preparar para o vestibular; ou que 2005 quando, por motivos obscuros para mim, fui transformado em objeto de desprezo por parte de um grupo de meninas da minha escola.

    Conheci Sônia nas últimas semanas, através de uma amiga em comum: é elegante, tem uma sofisticação que é difícil encontrar nas outras garotas da nossa idade, entretanto, não fica se gabando e é, decididamente, esperta, incrível... Não há nenhuma dúvida de que possa gostar de mim, é um fato, já que dentre os meus amores passados de adolescente se escondem personalidades bem piores, na verdade, acontece exatamente assim. Aliás, ela ficou sabendo e parece gostar, não obstante, aconteceu aquilo que, de longe, por doze anos, creio ser o momento da minha existência do qual mais me envergonho. O segundo momento mais embaraçoso que eu já vivi nem sequer se aproxima, apesar de se tratar da única vez em que proferi um insulto de cunho racial. Aconteceu anos após o episódio com a Sônia: eu trabalhava para uma multinacional em Budapeste e lidava quotidianamente com alguns colegas da filial indiana. Estes colegas tinham a fama de não serem muito rápidos no trabalho e sempre faziam com que todos perdessem muito tempo. Após o enésimo telefonema infrutífero com um técnico de informática de Gurgaon, deixei escapar um infeliz "Fucking Indians!", percebendo em uma fração de segundos depois a presença do enviado pela sede principal de St. Albans, sentado atrás de mim, com evidente origem no país que havia dado à luz a Gandhi. O episódio me embaraça muito ainda hoje, pois, obviamente, a minha explosão era destinada somente à escassa competência dos meus colegas asiáticos. Não que a torne menos grave, mas, pelo menos, dividir isso faz com que a culpa seja amenizada. Enfim...

    Você já teve tosse e gases ao mesmo tempo? Eu sim; evidentemente, em 2007, meu sistema imunológico decidiu demorar algum tempo para avisar e, bem mais tarde, descobri ser intolerante à lactose. Portanto, tenho tosse e gases. Eu, Sônia e outras garotas fomos ao aniversário daquela amiga de quem falei antes, estamos no carro para ir dançar. No momento, sou o único homem porque o namorado da minha amiga se juntará a nós mais tarde. Somos quatro ou cinco no estacionamento, acho que tinha uma amiga delas fora do carro, em pé. Estamos compartilhando um cigarro, embora eu não seja habituado a fumar e, na verdade, na primeira tragada acabei com dois metros cúbicos de fumaça nos pulmões. Tusso. Perco o controle dos músculos abdominais. Peido. Um carro com quatro mulheres, dentre elas, pelo menos duas desconhecidas. Devo explicar o porquê deste ser, de longe, o momento mais constrangedor de todos?

    Embora tenha acontecido esse incidente, as coisas iam muito bem. Na época, não creio se usava o termo leak para indicar uma informação que vazou, mas, basicamente, aconteceu que um e-mail meu no qual eu declarava a minha amiga um certo interesse pela Sônia foi enviado para a própria Sônia. Na verdade, ela recebeu a notícia

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